Posso estar triste?

Quando olhamos à nossa volta parece que o mundo passou a exigir-nos que estejamos sempre alegres e felizes. E com isso, tornamo-nos incapazes de suportar a nossa tristeza e a do outro.

Ao longo da nossa vida passamos por vários momentos, em que a única coisa que queremos é que nos deixem estar tristes. Não o tipo de tristeza que se transforma em depressão, mas a tristeza que faz com que, ao estarmos em contacto da nossa dor, ganhamos consciência do que é realmente importante para nós, e encontramos a força e a resiliência para passarmos a ser mais fiéis a nós próprios.

No entanto, perante uma educação que nos molda, e onde não é aceitável demonstrar os nossos sentimentos, aprendemos desde cedo a escondê-los. Quantas vezes nos perguntam se está tudo bem, e respondemos que sim, quando na realidade nos apetece gritar que não. Momentos em que o coração dói tanto que parece que vai sair do peito. Momentos em que magoámos alguém ou fomos magoados. Momentos em que o nosso mundo desmoronou, porque aquilo que sonhávamos deixou de ser possível.

E são nesses momentos que mais precisamos que, aqueles que estão perto de nós, tenham capacidade de nos deixar estar tristes. No entanto, tal como acontece desde que nascemos, aquilo que ouvimos são frases como ‘não estejas triste’, ‘não chores’, ‘tens que seguir em frente’, ….

Na sua ânsia de nos resgatarem, do que não se apercebem é de que a única coisa que precisamos é que tenham capacidade de estar com a nossa dor. Que deixem que a sintamos, e que não tentem fazer-nos acreditar que está tudo bem. Que estejam simplesmente connosco, nos nossos silêncios ou nos nossos monólogos.

E o que eles também não sabem, é que nos querem resgatar para se protegerem de entrar em contacto com a sua própria dor. Nesta incapacidade de vivermos com a nossa dor e a do outro, quantas vezes não dizemos tudo o que podíamos com medo de o magoar?  E com medo de não termos a capacidade de o sustentar na sua e na nossa dor?

Sendo tudo isto verdade em contexto pessoal, também o é (e muito) em contexto profissional. Quantas vezes, ao termos que dar uma má notícia, estamos preparados para conseguir viver com a tristeza do outro, e com o impacto que aquilo que estamos a dizer tem nele?

E se é verdade que na nossa vida pessoal nos programam para não mostrarmos os nossos sentimentos, nas organizações tudo isso é mais acentuado. O que passa a ser inaceitável é muito mais, e o que passa a ser aceitável muito menos. E é assim que acabamos a dizer que está tudo bem, quando nos apetecia dizer que está tudo mal. E é nesta ambiguidade, entre o que sentimos e aquilo que gostavam que sentíssemos, que criamos organizações que, na maioria das vezes, não estão preparadas para receber o melhor de nós!