O poder da vulnerabilidade
Há 5 anos atrás, grávida de 26 semanas encontrava-me internada no alto risco da maternidade Alfredo da Costa. Ao contrário de todas as minhas 5 colegas de quarto, a minha bebé estava bem. Quem não estava bem era eu. Estando ela no limiar da sobrevivência, e tendo eu que ser medicada, a monitorização era fundamental.
Mas o que me fez chegar ali? Desde junho que o meu corpo dava sinais que algo não estava bem. No meio da minha atividade e agitação optei por não lhe dar atenção. Contudo, dado que os sintomas se agravavam, decidi ir tentar perceber o que se passava. E o que é que eu descobri? Que quando os sintomas não ajudam a que o diagnóstico seja óbvio, entramos num território desconhecido. É possível sabermos a doença que não temos, mas extraordinariamente difícil perceber a que temos.
E foi assim que dei comigo numa cama de hospital, praticamente irreconhecível e incapaz de falar ou de comer. Esse foi para mim o momento em que conheci a vulnerabilidade, e a importância de viver um dia de cada vez. Foram 13 longos dias em que pus toda a minha vida em perspetiva, em que percebi o que realmente era importante para mim e quem queria ser a partir dali.
Conheci também o verdadeiro significado de resiliência e de espirito de equipa. Durante 13 dias convivi com várias mulheres que travavam uma verdadeira luta para conseguirem que os seus bebés sobrevivessem. Durante todo esse tempo nunca ouvi ninguém dizer que não aguentava, que desistia ou que não se sujeitava a qualquer tipo de tratamento. Por muito que a dor ou a dúvida as atormentasse estavam sempre prontas a enfrentar mais uma batalha.
Para além disso percebi o verdadeiro significado da celebração e da dor. Cada vez que alguma vencia, todas vencíamos. Cada vez que alguma perdia, todas perdíamos…
Olhando para trás, foi a vulnerabilidade que me salvou. Foi ela que permitiu que o meu corpo não cedesse, e foi ela que me fez perceber que a vida é muito mais do que aquilo que me tinha proposto viver até aquele momento.
Foi também a vulnerabilidade que me permitiu perceber a essência da liderança. Não ter medo de dizer que temos dúvidas, e ainda assim avançarmos. Não ter medo de dizer que errámos, e ainda assim arriscarmos. Não ter medo de dizer que caímos, e ainda assim estarmos dispostos a começar de novo. Não ter medo de dizermos que temos medo… e aceitarmos que isso faz parte da nossa condição humana!